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Brasil: Um país no qual os cuidados paliativos certamente têm futuro

  • Foto do escritor: Contato Instituto Premier
    Contato Instituto Premier
  • 7 de nov.
  • 6 min de leitura

Lições do crescente movimento de cuidados paliativos no Brasil e o que o Reino Unido pode aprender com seu impulso, resiliência e visão para um futuro mais compassivo.


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Em julho de 2025, durante o 7º Encontro Brasileiro de Serviços e Ligas Acadêmicas de Cuidados Paliativos, recebemos convidados especiais comprometidos com a saúde pública, dentre eles, Heather Anne Richardson. Heather é consultora sênior da equipe de aprendizagem profissional do St. Christopher’s Hospice — instituição pioneira em Cuidados Paliativos, fundada por Cicely Saunders em 1967, em Londres, Reino Unido. Em seu retorno, ela escreveu este generoso artigo, leia:


O Instituto Premier de Educação e Cultura, no Brasil, e o St Christopher’s Hospice, no Reino Unido, mantêm uma relação de longa data, focada na aspiração compartilhada de fortalecer a habilidade e a competência de profissionais de saúde e outros por meio da oferta de educação e treinamento em cuidados paliativos e de fim de vida. Ao longo dos anos, o Premier liderou a implementação do QELCA® (Quality End of Life Care for All – Cuidados de Fim de Vida de Qualidade para Todos) em mais de 51 instituições de 26 cidades, com 122 profissionais de cuidados paliativos formados como facilitadores. Por meio da metodologia Treinamento do Facilitador pelo menos 642 profissionais no Brasil já se beneficiaram de intervenções educacionais em cuidados paliativos.


Mais recentemente, tornou-se um Beacon, Farol em tradução livre, do CARE, também focado em oferecer educação e treinamento de alta qualidade, mas com um portfólio mais amplo de currículos e recursos de aprendizagem. O Centro de Ação e Resposta ao Fim de Vida (CARE) faz parte do St Christopher’s. Juntas, as duas organizações vêm identificando oportunidades para novos cursos em cuidados paliativos para pessoas que atuam no Brasil, adaptando e desenvolvendo os cursos criados pelo St Christopher’s para atender às oportunidades e desafios locais. O Premier, um instituto sem fins lucrativos voltado à capacitação de profissionais do sistema público de saúde, é liderado pelo extraordinário médico e visionário Samir, que reuniu família e apoiadores para perseguir sua visão de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual as pessoas possam viver, morrer e elaborar o luto de forma digna.


Esse não é um desafio pequeno. O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas, muitas delas sujeitas a profundas desigualdades estruturais, inclusive relacionadas à saúde e ao fim de vida.


Participando de uma experiência do Encontro em São Paulo


Tive a honra de me juntar à colega da parceria Farol, Manuela Salman, e a outros membros do Premier em um recente evento de “encontros”, realizado em julho, aberto a todos no Brasil comprometidos com o avanço dos cuidados paliativos no país. O programa de quatro dias reuniu cerca de 380 pessoas envolvidas no cuidado adulto e pediátrico, em serviços comunitários e hospitalares, urbanos e rurais. O público era composto por uma rica diversidade de estudantes, clínicos, seniores, formuladores de políticas públicas e voluntários. Juntos, compartilharam experiências locais, nacionais e globais sobre a prestação de cuidados paliativos, construíram conexões e relacionamentos, e exploraram oportunidades para avançar nos cuidados paliativos e de fim de vida no Brasil.


Especificamente, os participantes renovaram seu compromisso com um movimento social de ativismo chamado Frente PaliATIVISTAS, que desempenhou papel fundamental na aprovação da Política Nacional de Cuidados Paliativos – fundamentada na atenção primária à saúde. O movimento está agora voltado para garantir financiamento da política, com o objetivo de assegurar que mais pessoas tenham acesso a cuidados paliativos de qualidade, independentemente das desigualdades que enfrentam.


Os quatro dias incluíram eventos celebrativos, apresentações formais, música e diversas exposições. Músicos, crianças da favela local, um teólogo de renome mundial e anfitriões generosos trouxeram perspectivas para além dos cuidados paliativos, contextualizando o encontro em questões mais amplas como mudanças climáticas, arte, samba, jazz e conexão humana.


Reflexões sobre o encontro


É tentador detalhar mais neste artigo sobre o conteúdo do encontro. Ele me provocou muitas reflexões. Contudo, estou mais interessada em refletir sobre o que os serviços de cuidados paliativos do Reino Unido podem aprender com os colegas do Brasil, evidenciado nesse encontro.


Meu desejo de fazer isso reflete uma crescente preocupação com os cuidados paliativos no Reino Unido. Atuante de longa data na área, percebo um setor que parece estar encolhendo – em termos de oferta, voz e ambição, apesar do crescimento e impacto significativos das últimas décadas. Os receios sobre financiamento são enormes; a ansiedade em relação a uma possível mudança na lei sobre morte assistida é paralisante; e a falta de investimento em educação e treinamento contínuos impede as organizações e sua força de trabalho de se prepararem para necessidades e oportunidades em constante mudança.


Nós, no Reino Unido, poderíamos aprender com o Brasil – e, especificamente, com aqueles que participaram do Encontro. Eles enfrentam muitos dos mesmos desafios, mas demonstram um forte senso de impulso. O que será que eles estão fazendo que poderíamos emular para sustentar nossas ambições, energia e resultados no futuro?


Invista em relacionamentos


No cerne da ambição, da confiança e da energia do encontro estava a crença no valor de cada pessoa presente e de suas diferentes contribuições para uma nova perspectiva para o Brasil. O encontro começou com uma noite de celebração dos feitos anteriores dos centros QELCA®, seguida de falas inspiradoras de professores da favela local e de outros que compartilharam uma visão de futuro diferente para as pessoas que vivem no Brasil, especialmente aquelas cujas vidas foram moldadas pela desigualdade.


As conexões e o interesse mútuo foram características constantes do encontro, culminando em uma celebração ao final em um restaurante local, para a qual todos os participantes foram convidados. A cada dia, as pessoas se reuniam nos intervalos, no início e no fim do dia para renovar e fortalecer relacionamentos de valor pessoal e profissional, construindo laços duradouros.


Seja político


Apesar do caráter acolhedor do evento, houve uma forte e intransigente chamada para o compromisso renovado do Governo do Brasil com sua promessa de melhores cuidados paliativos para a população. Os detalhes da política existem, mas há pouco investimento em sua implementação prática.


Embora o tom do encontro fosse de amor e cuidado mútuo, houve uma exigência retumbante e incansável por ação da parte de políticos e outros em posições de responsabilidade. Representantes do Ministério da Saúde foram convidados e participaram do evento ao lado de clínicos, gerando um forte e compartilhado senso de responsabilidade.


Olhe além dos serviços profissionais para enfrentar desigualdades


Um dos elementos mais notáveis do encontro foi a parceria evidente entre iniciativas comunitárias, particularmente comunidades compassivas, e serviços hospitalares, todos trabalhando para permitir que as pessoas vivam e morram melhor, onde quer que estejam.

Muitos dos profissionais voluntários em iniciativas comunitárias também atuavam em hospitais privados. Não havia qualquer sensação de hierarquia de valor ou expertise, mas sim uma apreciação mútua pelos diferentes elementos de cuidado oferecidos em um amplo espectro.


As iniciativas comunitárias iam além do cuidado informal, incorporando aspectos da vida comunitária, como bandas de samba para crianças e jovens. Histórias de sucesso incluíam desde financiamento coletivo para pessoas em sofrimento até respostas organizadas. Profissionais faziam questão de apoiar essas iniciativas e se sentiam orgulhosos quando o faziam.


Aja com generosidade


Os fundadores do Instituto Premier não parecem exigir qualquer reconhecimento por seu papel como líderes de uma mudança de longo prazo e bem-sucedida. Ao contrário, trabalham arduamente para valorizar a contribuição de outros, envolvendo novos e diferentes atores que refletem a amplitude da agenda que estabeleceram.


O programa contou com uma ampla gama de colaboradores, reconhecidos tanto por seus esforços passados quanto por suas futuras contribuições. Seu espírito de generosidade foi inclusivo, celebrando claramente a diversidade entre indivíduos e grupos.


Enfrente o futuro com coragem


Por fim, a coragem com que os organizadores do encontro lidaram com questões difíceis, incluindo aquelas que poderiam abalar sua reputação, foi notável. Questões como o papel vital dos cuidados paliativos na morte assistida e a falta de oportunidades de avanço profissional para alguns grupos comunitários marginalizados foram plenamente abordadas, com apoio do público, que ouviu com curiosidade e demonstrou seu compromisso com um mundo diferente por meio da participação ativa em painéis de discussão e outras atividades.


Considerações finais


Seria fácil considerar o Brasil suficientemente diferente do Reino Unido a ponto de não haver oportunidade de encontrar paralelos que ofereçam soluções novas e recíprocas além daquele país. Acredito que isso está muito longe da verdade – e palestrantes de outras partes do mundo confirmaram isso.


Palestrantes do Reino Unido, como Allan Kellehear, destacaram o valor da abordagem de saúde pública adotada pelo Brasil e o progresso de suas comunidades compassivas. Mark Stoltenberg, dos EUA, observou os enormes avanços rumo a um maior acesso universal, apesar das desigualdades.


Minhas próprias reflexões reconheceram a abordagem altamente relacional do Brasil para melhorar os cuidados – um contraste gritante com a abordagem frequentemente transacional que se torna cada vez mais comum no Reino Unido.


Seguindo adiante, o St Christopher’s está empenhado em perpetuar a parceria e aprender com o Instituto Premier e seus parceiros locais. O Instituto Premier, de modo semelhante, reconhece oportunidades de formar líderes e fortalecer serviços de reabilitação por meio do CARE do St Christopher’s.


Podemos enxergar um futuro muito mais promissor através de nosso trabalho conjunto. Que continue por muito tempo.


Heather Richardson

St. Christopher’s Hospice


Leia aqui o artigo original, em inglês.


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